para Sami
I
Talvez adoeça e
adormeça por um milhão
de dias
guardado numa valise
que só agora
percebo valiosa
atrasada talvez
vaidosa falta que quase liga
desliza e desafia
tarefa de afeto
deseja e domina essa fagulha
que murmura uma saudade
de fogo tão breve
que deve dormir
por um dia
um ano
pra sempre
talvez
II
Apodrece agora esse ar
e dói cada centímetro
e flui nas veias o ócio
e onde é agora
essas quatro paredes
esse teto
essa tevê
essa caneta que
me aponta quando escrevo
onde é
que quero chegar
se o sono não
vem
lá do fundo
o que diz que sou
só um
dessa raça que chora
espera
e agora disfarça
III
Pode ser que eu espere
as cinzas do dia
pode ser que eu separe
e pareça perdido
mas vai parecer sempre
que vôo
que soluço
toda vez que ouço
tua voz num breve "unhum"
IV
Cerquei o poema
e pedi um autógrafo
perdi a paciência
e cravei a caneta
no peito do poema
e nunca soube
se o que escorria
era tinta
ou era alma
10/05/2008
(em Lages, num quarto de hotel)
V
Nesse momento
são frias as certezas
as certezas que tenho
estão imóveis
mesmo com o vento gelado
não giram nenhum catavento
as certezas se amontoam
num emaranhado incerto
apegadas à certeza
de que talvez o sol
ainda
volte a brilhar
como brilha nos olhos
do negrinho
como brilha nos cabelos
da loirinha
como brilha nesse sonho de infância
nesse mergulho vespertino
numa piscina imaginária na periferia
e nunca
esses olhos
esses cabelos
lembrarão de mim
mas as certezas talvez se aqueçam
talvez esqueçam
e me livrem
dos pequenos fantasmas
de toda noite.
11/05/2008
(nas ruas de Lages)
[el rodriguez]
19 de mai. de 2008
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