20 de mar. de 2007

para o Marco

O que resta
sempre aparece
sem resposta plena
se se esquece a pergunta
logo se nota
que a porta esconde bem mais
acende a palma da mão
lança mão dos artifícios
cata o que resta
o que é teu
sacrifícios e almas
se avizinha deste destino
destaca o que há de luz
e forja tua lanterna
no esforço da memória
uma história assim se faz
(te torna eterno

ao que resta de mim)


[el rodriguez]

13 de mar. de 2007

Trilogia




















I

Uma estrela
pode ser qualquer estrela
(até que expire)
até que seja a sua

uma estrela morre
muito antes de nós
e continua morrendo
mesmo além de nós

a sua estrela continua
morta-viva pelo espaço
e será de outrem também
na elegante tradição
da promiscuidade cósmica.



















II

Palpita o silêncio
de perdas inúteis
a estrela
(memória morrente)
o raio
(corisco enterrado)
pedras enfileiradas
pepitas solenes
num jardim sem dono
cedo aparece o sol
raiando em cada gota—
eliminando testemunhas.
























III

Euforia e fúria
a mesma face
de uma só moeda
faca afiando
a cisma férrea
fornecendo ao chão
o fluido no fluxo necessário
ao fim do mau à queda
ao fenecimento arbitrário
da força vital.


[el rodriguez]

9 de mar. de 2007









...estouraram-me flores
e eram lágrimas que o chão renega
menos por desafeto que por horror
tendo o silêncio sempre a mesma imagem
sustentando a mesma tensão
quando desbastado a fogo brando
que anuncia o suplício
pleno de não ser mais sacro
saciado apenas de vertigens
encantadas como sinos quebrados
e badaladas trincadas
farpas de som no ar
o mais mecânico
o mais materialmente (im)possível...

[el rodriguez]

8 de mar. de 2007


Publico, em primeira mão, um poema da Larissa, em homenagem ao seu gato preto Pereba. Feliz ano e dia das mulheres a todas...




Como gostaria às vezes,
de compartilhar contigo,
Doce amigo,
A tua soneca felina,
A tua calma felina
O teu espreguiçar-se demorado em incontáveis vértebras.
Como gostaria sempre
De amar com o teu amor felino,
Teu amor divergente.
Teu afago descuidado que me arranha os olhos.
Não sendo como tu,
Negro companheiro,
Assim tão indiferente,
Assim tão felina,
Me contento em ser humana,
E ter para ti o meu amor inter-espécies,
Te esperando voltar,
Compreendendo tuas idas e vindas,
E admirando não ter tu,
a vil necessidade de se explicar!

6 de mar. de 2007

Interior

Morre o minuto para as 3
para que a faca não incomode
a quem
cedo acorde por ondas de A.M.

borra de café
ovo quente com sal
entre as receitas
da velha parabólica enferrujada

(uma parábola
de quem em firme viagem
navega e só se assossega
em terceiras margens)


[el rodriguiez]

5 de mar. de 2007






incriação


para Joesat Vosie


as metáforas que prescrevi
outrora
servem para um tempo de
outrora
agora que o agora inunda o que
outrora
era imunda face caricata
fere-se a fera fedorenta que
outrora
odor de anjo transpirava
fode-se a fé firulenta que
outrora
alimentava a espada de dor
espalhada na planície vicejante que
outrora
deslizava em metáforas por madurar

outrora
lancei um conselho numa garrafa
outrora
alcancei a graça de um bocejo
outrora
quis como todos ser mais que
outrora
vejo e amo o que não havia
outrora

[el rodriguez]