17 de out. de 2007

Porta dos fundos

(aceita-se parceria pra uma canção)


Me diverte o pensar

Assustado e feio

Separar as meias

Sem pedir licença alguma

Atenção e calma

Calamidade se espalha

Feito pó anti-séptico

Certo certo certo

A náusea vem pra todos

Cumpra o desjejum

Financie o esquema

Quem teima perde o juízo

Assista e deseje o fim

Catástrofe por aqui

Não tem não senhor

Me apresente o documento

Sincero acerto

Acerto acerto acerto

Todos duvidam de quem?

Vaga não há mas

Pelo portão dos fundos

Não é fuga é amor

Uma bela canção de amor

Com rimas tristes e tratos

De interesses escusos

Diga a verdade

Você não veio pra isso

Pegue a mala e o violão

Não pense em desistir

A porta dos fundos

É uma bela canção de amor

(Eu só queria uma bela canção de amor)



[el rodriguez]

6 de out. de 2007

Trincheiras

(para uma possível música com o João)

Milhares de janelas

fora do ar

e a tela acaricia

lentamente

eu me levanto

e já não peso um século

me perco na via

atentamente

ela se volta

e já não vejo rota

já não vejo volta

estupidamente

lançado em missão suicida

apartado da sorte

o cheiro forte de vida

silenciosamente

acabou-se a solução

alvo e destroços

desastrosa conclusão

penosamente

eu me levanto

e não passou um dia

pra que tanto espanto?

3 de set. de 2007

Talvez fórmula

para uma Trakinas muito especial

o sabor de um sorriso
é ferramenta universal
conserta estragos e desvios
que a burocracia ostenta
o mal se rende
e atende a prece em sol
em linguagem que irradia
e faz dia em quem entende
que não há o que falar
nem trilhas traçadas
há o ir-se junto sem olhar
porque contagia esse fluido
que tece o não dizer
dizendo o tão sentido assim
sem não, depois ou fim.

All.

7 de ago. de 2007

Por mais que eu tente

(um samba por/pro Gabriel)

Vá pro diabo que te carregue
já que renegas o meu amor
a minha paz sou eu quem faz
eu administro a minha dor

Galega, eu to diferente
cê me dá muito pouco
por mais que eu tente

Galega, agora eu to exigente
por mais que eu tente
não consigo ver
um futuro pra gente

Galega, eu vou viajar
vou embora daqui
tchau pra quem ficar
eu só vim me despedir.

juniores

4 de ago. de 2007

jogos de armar

(arranjei um joguinho pra construir palavras improváveis e por vezes poéticas: mando mensagens com links pelo orkut e recolho as palavras-códigos que validam a postagem)

Etch

Commic

Rese

Syna

Flatti

Bonst

Rises

Untn

Sana

Aorste

Atter

Surgle

Sildpa

Mings

Flogeo

Onsmo

Mall

Prewa


[el rodriguez]

29 de jul. de 2007

a palavra é II

vestígio
resquício de algo acordado
ainda morno sob a pedra
pés gelados e uma água que corre

talvez gás
liquefaz a certeza
toda vez que encobre uma cidade

normalidade
e temperatura ambiente
quando se anuncia uma verdade

impossível
ela não diz nada
rumina os cacos de silêncio

até que exploda -
e enlace um novo cinturão de estrelas -
outra mina desenganada.

[el rodriguez]

26 de jun. de 2007

Da série "a palavra é..."

a palavra é
a letra inaudita
a lavra maldita
o que a palavra não é?

cinza se papel queimado
desejo se não consumado
peripécias de um endividado
silêncio de quem sempre calado
oh, o ódio do olvidado


a palavra insinua
um futuro em precipício
ensina a vulgaridade
da letra nua
dormindo em plena varanda
como se fosse verdade.

[el rodriguez]

15 de jun. de 2007

Casa velha

O que ninguém diz
que o tempo passa
mesmo atrás das cortinas
a velha tela amarela
corta o tanto de pensar
que há naquela tinta
um resto de alma ainda
apesar do que resta ao redor
inventário de poucas paixões
permutas de silêncio e fogo
e logo é jogo acabado
que assim se esquece no frio
o ar que atesta a tristeza
e convence que esse fio de luz
pertence à lua e à fresta.

[el rodriguez]

14 de jun. de 2007

Como dizer
que não pude pular
abismos brotam indiscretos
estalam sobre a epiderme
buracos negros manifestos
erupções de falácias
o cerne é de luz e pus
o desejo é deixar-se
¿onde frases são palácios?
destroços de palavras:
versos

20 de mar. de 2007

para o Marco

O que resta
sempre aparece
sem resposta plena
se se esquece a pergunta
logo se nota
que a porta esconde bem mais
acende a palma da mão
lança mão dos artifícios
cata o que resta
o que é teu
sacrifícios e almas
se avizinha deste destino
destaca o que há de luz
e forja tua lanterna
no esforço da memória
uma história assim se faz
(te torna eterno

ao que resta de mim)


[el rodriguez]

13 de mar. de 2007

Trilogia




















I

Uma estrela
pode ser qualquer estrela
(até que expire)
até que seja a sua

uma estrela morre
muito antes de nós
e continua morrendo
mesmo além de nós

a sua estrela continua
morta-viva pelo espaço
e será de outrem também
na elegante tradição
da promiscuidade cósmica.



















II

Palpita o silêncio
de perdas inúteis
a estrela
(memória morrente)
o raio
(corisco enterrado)
pedras enfileiradas
pepitas solenes
num jardim sem dono
cedo aparece o sol
raiando em cada gota—
eliminando testemunhas.
























III

Euforia e fúria
a mesma face
de uma só moeda
faca afiando
a cisma férrea
fornecendo ao chão
o fluido no fluxo necessário
ao fim do mau à queda
ao fenecimento arbitrário
da força vital.


[el rodriguez]

9 de mar. de 2007









...estouraram-me flores
e eram lágrimas que o chão renega
menos por desafeto que por horror
tendo o silêncio sempre a mesma imagem
sustentando a mesma tensão
quando desbastado a fogo brando
que anuncia o suplício
pleno de não ser mais sacro
saciado apenas de vertigens
encantadas como sinos quebrados
e badaladas trincadas
farpas de som no ar
o mais mecânico
o mais materialmente (im)possível...

[el rodriguez]

8 de mar. de 2007


Publico, em primeira mão, um poema da Larissa, em homenagem ao seu gato preto Pereba. Feliz ano e dia das mulheres a todas...




Como gostaria às vezes,
de compartilhar contigo,
Doce amigo,
A tua soneca felina,
A tua calma felina
O teu espreguiçar-se demorado em incontáveis vértebras.
Como gostaria sempre
De amar com o teu amor felino,
Teu amor divergente.
Teu afago descuidado que me arranha os olhos.
Não sendo como tu,
Negro companheiro,
Assim tão indiferente,
Assim tão felina,
Me contento em ser humana,
E ter para ti o meu amor inter-espécies,
Te esperando voltar,
Compreendendo tuas idas e vindas,
E admirando não ter tu,
a vil necessidade de se explicar!

6 de mar. de 2007

Interior

Morre o minuto para as 3
para que a faca não incomode
a quem
cedo acorde por ondas de A.M.

borra de café
ovo quente com sal
entre as receitas
da velha parabólica enferrujada

(uma parábola
de quem em firme viagem
navega e só se assossega
em terceiras margens)


[el rodriguiez]

5 de mar. de 2007






incriação


para Joesat Vosie


as metáforas que prescrevi
outrora
servem para um tempo de
outrora
agora que o agora inunda o que
outrora
era imunda face caricata
fere-se a fera fedorenta que
outrora
odor de anjo transpirava
fode-se a fé firulenta que
outrora
alimentava a espada de dor
espalhada na planície vicejante que
outrora
deslizava em metáforas por madurar

outrora
lancei um conselho numa garrafa
outrora
alcancei a graça de um bocejo
outrora
quis como todos ser mais que
outrora
vejo e amo o que não havia
outrora

[el rodriguez]

25 de fev. de 2007

elaboro uma sentença
sem intenção alguma
perdida na necessidade
às vezes cadavérica
zumbi morta-viva
de esconder sombrear
os pequenos crimes
do chiclete ao beijo
roubados

saborear a iguaria
de um corpo inerte
igualar-me à divindade
de um verme

[el rodriguez]

21 de fev. de 2007

se caísse
a chuva
e só molhasse

o campo
seu corpo
meus olhos

se caísse
a chuva
e só mostrasse

o silêncio
seu sopro
meus olhos

se caísse
a chuva
se só caísse
a chuva
a chuva seria
memória
se caísse só
história
a chuva seria

o tempo
seu colo
meus olhos

[el rodriguez]

10 de fev. de 2007









na pista


o ovo
não morde
o ovo
não tem baba
o ovo
não tem bigode
o ovo
não tem barba
o ovo
não tem cabelo
o ovo
não tem regra
o ovo
não tem pelo

pelo menos
o ovo
é branco
e se destaca
na luz negra


[el rodriguez]

escova aí...

9 de fev. de 2007

de pele e ressonância

raspar o tacho de fé
rodapé parede-não
mórbida taxa de erros
a morte tava de sim
rapé silêncio e aí
toca o pé no solo
a mão a corda o canto
corte acesa madrugada
construindo o tato o ai
gente corpo batucada
pra onde a noite vai

[el rodriguez]

escova aí...

8 de fev. de 2007

Volto ao tempo do tecer
fio a fio desfeito
e há muito frio
apenas o mito
transita: o próprio fogo
o gelo da memória derrete
escorre o território
do possível não é possível saber

[el rodriguez]

Comentários

7 de fev. de 2007

Uma estrutura rui
ao longe
no roer de criaturas
inanimadas
inexistentes mesmo
a olho nu

a linguagem ficcionaliza
sua própria condição—
funciona assim o microscópio

[el rodriguez]